Quando ainda estava na universidade estudando Biologia e Relações Internacionais, tinha um assunto que me chamou atenção, mas nunca cheguei a escrever nada sobre ele. Logo em seguida fui trabalhar com Comércio Exterior e me interessei mais sobre o principal meio de transporte de cargas utilizado internacionalmente (aproximadamente 75%), os navios. E o assunto que agora tenho a oportunidade de discorrer é a água de lastro.
Lastro nada mais é do que qualquer material utilizado para aumentar o peso e, consequentemente, estabilizar um objeto, neste caso, um navio. Antigamente eram utilizados diversos tipos de materiais para balancear o peso do navio como: areia, metais e pedras. Porém, com o tempo, as embarcações começaram a utilizar a própria água dos portos como lastro, por conta da facilidade para encher e esvaziar os compartimentos (figura 1).
Com o intuito de contrabalancear a perda de peso decorrente do desembarque de mercadorias, as embarcações captam e descartam a água principalmente em regiões portuárias. É neste ponto que surge uma grande preocupação.
De acordo com a Agência Nacional de Transportes Aquaviários, durante a operação de lastreamento do navio, junto com a água também são capturados pequenos organismos que podem acabar sendo transportados e introduzidos em outro porto previsto na rota de navegação. Teoricamente, qualquer organismo pequeno o suficiente para passar através do sistema de água de lastro pode ser transferido entre diferentes áreas portuárias no mundo. Isso inclui bactérias e outros micróbios, vírus, pequenos invertebrados, algas, plantas, cistos, esporos, além de ovos e larvas de vários animais.
Devido à grande intensidade e abrangência do tráfego marítimo internacional, a água de lastro é considerada como um dos principais vetores responsáveis pela movimentação transoceânica e interoceânica de organismos costeiros.
As principais consequências da introdução destas espécies exóticas de uma região a outra são:
• O desequilíbrio ecológico das áreas invadidas, com a possível perda de biodiversidade;
• Prejuízos em atividades econômicas utilizadoras de recursos naturais afetados e consequente desestabilização social de comunidades tradicionais;
• A disseminação de enfermidades em populações costeiras, causadas pela introdução de organismos patogênicos.
Para se ter uma ideia da seriedade do problema, A Globallast, agência pertencente a Organização Marítima Internacional (IMO), considera as água de lastros entre as quatro maiores ameaças aos oceanos. E ao contrário de outras formas de poluição como vazamento de petróleo, os impactos de espécies marinhas invasoras são na maioria das vezes irreversíveis.
Agora imagine o fluxo de cerca de 50 mil navios por ano em centenas de portos do mundo, transportando e dispersando toneladas de matéria orgânica proveniente da água de lastro. Com certeza é um problema sério para a biodiversidade e economia marítima mundial.
Hoje, temos uma Convenção Internacional para o controle e gerenciamento da Água de Lastro e Sedimentos dos Navios, assinada em 2004 e adotada pela IMO. A convenção propõe uma série de padrões para a dispersão da água em zonas marítimas profundas ao invés de zonas portuárias, a manutenção e disposição dos compartimentos nos navios entre outras medidas.