O comportamento do consumidor apresenta estrita relação com o meio ambiente, podendo contribuir significativamente para a sua degradação, por meio do consumo desenfreado e irracional, mas também pode colaborar fortemente para a sua manutenção através do consumo consciente e sustentável.
O consumo desenfreado tende a transformar o mundo em um verdadeiro depósito de mercadorias e de poluição em massa. Além disso, os impactos negativos que as prática pode causar ao meio ambiente não se limitam ao comportamento de compra, abrangendo também o “comportamento de uso” e o “comportamento dos resíduos”, ou seja, a intensidade e forma de utilização dos recursos adquiridos e o destino e tratamento dado aos resíduos produzidos. Tais práticas, se realizadas de forma irracional, comprometem seriamente o futuro do planeta (VAN DEN BERGH et. al. 2000).
Em contrapartida, o consumo consciente e sustentável costuma mitigar os danos causados ao meio ambiente. Segundo Jackson (2005), o consumo sustentável corresponde a um comportamento mais seletivo do consumidor, o qual inclui práticas limpas em seu cotidiano, compreendendo, por exemplo, a reciclagem de resíduos domésticos, a compra de produtos com características energeticamente eficientes e limpas, os investimentos em fundos de conservação de água ou energia, a compra de alimentos orgânicos entre muitas outras práticas.
O consumo sustentável e consciente envolve, portanto, escolhas de produtos mais limpos e com processos produtivos menos degradantes. Ao adquirir uma maior consciência de consumo, as pessoas passam a comprar aquilo que é necessário, priorizando bens com maior durabilidade, evitando desperdícios e considerando as consequências de suas escolhas para as gerações futuras, dada a iminente condição do planeta frente ao aquecimento global e às mudanças climáticas, resultantes de décadas de degradação ambiental.
O conceito de consumo sustentável é relativamente recente, foi criado a partir da compreensão do desenvolvimento sustentável, com a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente (Relatório Brudtland, 1987), a qual propôs um tipo de desenvolvimento que atendesse às necessidades do presente, sem comprometer as das gerações futuras (JACOB, 2003). Nas últimas décadas, tornou-se evidente a intensificação do interesse das nações por essa temática, a qual tem ganhado cada vez mais importância nas políticas nacionais e internacionais, passando a ser foco das discussões globais.
Esse fenômeno está relacionado com o forte aumento do consumismo mundial, principalmente na segunda metade do século XX. O padrão de consumo crescente, adotado pelas nações desenvolvidas no início dos anos 80 e 90, trouxe à tona a necessidade de mudança para ações mais sustentáveis, de modo a reduzir os danos ambientais causados pelo consumo individual e social excessivo (HOBSON, 2004).
Entretanto, modificar todo um tradicional padrão insustentável de consumo das nações não é uma tarefa fácil. Isso se deve à existência de uma série de fatores que limitam esse processo, tais como: as fortes barreiras institucionais, estruturas de incentivos, desigualdades no acesso ao produto e fatores culturais, sociais e econômicos. Além disso, os baixos níveis de renda, educação e de acesso à informação, presentes principalmente em países pobres, impedem a expansão do consumo sustentável e os critérios de escolha do consumidor, retardando todo esse processo de mudança.
A solução não seria uma drástica redução nos níveis de consumo, pois isso resultaria em sérios problemas socioeconômicos, mas sim algo voltado à maximização da eficiência dos métodos de produção e consumo dos recursos, o que necessitaria fortemente da presença do poder público, por meio de políticas que incentivem as práticas limpas, como a reutilização, reciclagem e reparação dos produtos.
O Relatório do Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP, 2014) alerta para essa grande necessidade de mudanças sistêmicas no consumo das nações. Segundo o documento, tais mudanças só serão possíveis com a participação de toda a sociedade, governos e do setor empresarial, incentivando novos padrões de consumo, dissociando o crescimento econômico da degradação, promovendo a expansão da produção de bens e serviços com tecnologias limpas e favorecendo o acesso a serviços básicos e infraestruturas sustentáveis.
A participação de todos em prol dessa mudança de paradigma, contribui decisivamente para que o consumo sustentável não seja apenas uma mera teoria, mas torne-se um caminho promissor rumo à sustentabilidade das nações.
Referências
JACKSON, T. Motivar Consumo Sustentável uma revisão de evidências sobre o comportamento do consumidor e mudança de comportamento. Centro de Estratégia Ambiental. Universidade de Surrey, Janeiro 2005.
JACOB, P. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. Caderno de pesquisa nº118, 2003. Disponível aqui. Acesso: 12/07/2015
UNEP. Relatório do Programa das Nações Unidas. One click away from Sustainable Consumption and Production. UNEP, 10YFP. Disponível aqui.
VAN DEN BERGH, Jeroen C.J.M, e FERRER-I-CARBONELL, Ada. Economic Theories of Sustainable Consumption: Empirical and Policy Implications. Viena: European Society for Ecological Economics (ESEE) Conference, 2000.