Em poucos dias começa a Copa do Mundo da FIFA e muito se comenta dos gastos do poder público, dos casos gritantes de desvio de verba pública, da exploração nos canteiros de obras e as 9 mortes de trabalhadores, com as palavras tomadas do nosso vocabulário pela FIFA. Contudo, pouco se fala dos impactos ambientais que este campeonato de futebol está causando em nosso país.
É importante salientar que boa parte desses impactos foram causados pela subserviência do Estado brasileiro perante a interesses privados da FIFA e seus parceiros e das grandes empreiteiras responsáveis pelas obras. Fazendo uma pesquisa rápida na internet encontrei diversos casos de impactos ambientais da Copa da FIFA e classifiquei-os em quatro tipos, são eles:
1. Aumento no consumo de água
Algumas cidades da região receberão turistas que vão acompanhar a Copa do Mundo, aumentando o consumo de água. Além da capital paulista, que é sede do Mundial, diversas outras cidades sediarão seleções. Atenção especial para São Paulo que enfrenta a maior crise hídrica desde 1931. É bem possível que haja um racionamento de água durante a Copa e bem sabemos em que bairros será feito esse racionamento…
2. Uso intensivo de recursos naturais para a construção de estádios e demais obras da copa
Há estádios construídos em locais onde não há tradição de futebol. A pergunta que fica é o que será feito com eles depois da Copa? Deixo para o leitor especular, já que nem o governo sabe o que fazer com um estádio em Manaus. A implicação de se construir obras que em pouco tempo serão subutilizadas vai além do dinheiro gasto, também é importante pensar na quantidade de recursos naturais gastos e que causam grande impacto para sua extração e beneficiamento, sem falar na energia empregada nas obras.
Além disso, estima-se que 11 milhões de toneladas de gás carbônico sejam liberadas por causa das obras no país, segundo um estudo do Ministério do Meio Ambiente. A quantidade é igual ao consumo de energia de 181 mil domicílios, suficiente para iluminar um município do tamanho de Santos (SP) durante 1 ano. É pouco ou quer mais?
3. Emissões de gases de efeito estufa pelo deslocamento urbano
Está sendo privilegiado o uso de transporte individual em detrimento do transporte coletivo e o investimento em vias é feito em áreas de circulação próximas aos estádios e aeroportos, que depois da Copa, serão subutilizadas. Além disso, há construções (boa parte inacabadas) de vias de acesso que privilegiam veículos individuais.
Exemplos: na cidade de Natal uma grande via foi construída para a Copa sem acesso para pedestres e ciclistas. No Rio de Janeiro foi derrubada a Perimetral, que ligava o centro do Rio a região portuária, causando aumento no deslocamento e maior congestionamento e afastou pontos de ônibus, fazendo com que muitos usuários tenham que pegar mais um ônibus além do(s) que usualmente pegavam.
Isso sem falar no transtorno que as obras estão causando no tráfego. Cuiabá conheceu o congestionamento pelas obras da Copa e, consideráveis aumentos na emissão de poluentes atmosféricos são causados em decorrência disso.
4. Construção de obras da Copa desrespeitando a legislação ambiental
Devido ao atraso no planejamento das obras, vários empreendimentos foram dispensados de Avaliações de Impacto Ambiental. E nos realizados, em vários Estudos de Impacto Ambiental e seus respectivos relatórios (EIA/RIMA) não houve audiências públicas (previsto em lei). Parece que o argumento mais utilizado é o de deixar tudo para a última hora para que se passe por cima das exigências legais. Afinal, tudo é válido quando se trata de fazer a Copa do Mundo no país do futebol!
Posso citar alguns exemplos: no município de Fortaleza a implantação da via para o Veículo Leve sobre Trilhos, que tem 13 km de extensão atingiu 22 comunidades. Além disso, o projeto tem deficiências no licenciamento ambiental. Em Cuiabá o projeto Porto Cuiabá tem causado degradação das margens do Rio Cuiabá por desmatamento irregular, entre outros problemas. Em Natal o prolongamento de uma avenida passa por dentro de um setor de Mata Atlântica.
Em São Paulo a construção do trecho norte do Rodoanel passa por áreas densamente povoadas e de proteção ambiental, na Serra da Cantareira. Para não me mandarem de volta para a idade da pedra, alegando que sou contra o desenvolvimento, não sou especialista na área, mas me parece que há rodovias ao norte da região metropolitana de São Paulo que já fazem a ligação deste trecho…
Remoções – um caso especial
Cerca de 250 mil pessoas devem ser despejadas até a Copa do Mundo e a Olimpíada, para dar lugar a intervenções urbanas para os eventos. Destaca-se que as indenizações estão bem abaixo do valor de mercado e, quando são oferecidas moradias, as casas ficam a até 60 km de distância do local de origem. Ademais, com uma indenização irrisória, que impossibilita a mudança para uma moradia digna, as famílias são forçadas a migrar para regiões irregulares, como áreas de mananciais, de preservação ambiental ou favelas.
Mas depois de tudo isso, você vai ouvir na TV que esta é a Copa Verde, por uma série de detalhes na construção dos estádios. Eu não acho que seja ruim esse tipo de atenção, só que eu não me contento com isso, porque isso é muito pouco, quase insignificante perto dos parcos exemplos aqui apresentados de impactos com magnitude muito maior do que as ações tomadas. A questão é quando vamos parar de aceitar medidas paliativas para problemas sistêmicos?
E aí, quando você vai gritar: NÃO VAI TER COPA?!
Colaboração de João Paulo Camargo
FONTES:
Sistema Cantareira: entenda a crise hídrica em São Paulo. Disponível em:
http://www.ebc.com.br/noticias/brasil/2014/05/crise-hidrica-em-sao-paulo-era-previsivel
Portal Popular da Copa. Disponível em: http://www.portalpopulardacopa.org.br/
MPE aciona governo e manda paralisar obra da Copa. Disponível em:
Isenta de pagar R$ 1 bilhão em impostos, Fifa garante lucro recorde na Copa de 2014. Disponível em: http://esportes.r7.com/futebol/copa-das-confederacoes-2013/isenta-de-pagar-r-1-bilhao-em-impostos-fifa-garante-lucro-recorde-na-copa-de-2014-25062013