Sete milênios desde sua invenção, o couro continua sendo um dos materiais naturais mais duráveis e versáteis. No entanto, as preocupações cada vez maiores com o bem-estar animal vêm mudando bastante a lógica do consumo desse material e trazendo uma onda de substitutos sintéticos.
As alternativas de couro produzidas a partir de polímeros sintéticos se saem melhor em termos de sustentabilidade ambiental e alcançam uma participação de mercado considerável nos últimos anos. Mas esses materiais enfrentam os mesmos problemas de descarte de qualquer plástico sintético. Assim, o mercado de couro tem buscado outras inovações.
Por mais estranho que possa parecer, um bom candidato é um humilde fungo.
Quão insustentável é o couro animal, na verdade?
A sustentabilidade do couro depende de como você o encara. Por utilizar peles geralmente de vacas, a produção está relacionada à criação de animais – o que também requer produtos químicos tóxicos para o ambiente.
Embora tenha a mesma fonte, produzir couro não chega nem perto de causar o mesmo impacto que produzir carne. No entanto, o curtimento de couro ainda consome muita energia e recursos e produz muitos resíduos de lodo durante o processamento. Isso representa um impacto ambiental maior do que outros produtos de origem animal processados, que podem ser vendidos como produtos de carne ou ração animal.
Do cogumelo ao couro
As tecnologias de couro derivadas de fungos, que aliás já foram patenteadas por empresas americanas, aproveitam a estrutura semelhante à raiz dos cogumelos, chamada micélio, que contém o mesmo polímero encontrado na casca do caranguejo, por exemplo.
Em vez de precisar de hectares de terra e toneladas de grãos para criar gado, os fabricantes de couro de cogumelo cultivam esteiras gigantes ou tonéis que se alimentam de açúcar de beterraba, melaço ou outros subprodutos industriais como serragem. Cultivado em uma superfície plana, o fungo maduro pode ser cortado e desidratado e, para parecer couro, são usados ácidos leves, álcoois e corantes para modificar o material fúngico, que é então comprimido, seco e gofrado.
O processo é bastante simples e pode ser concluído com o mínimo de equipamentos e recursos por artesãos. Um tapete natural de fungos, por exemplo, se faz em poucas semanas. Uma vaca leva cerca de dois anos para crescer até o ponto em que sua pele pode ser transformada em couro, enquanto folhas de micélio são cultivadas em questão de semanas. Também pode ser dimensionado industrialmente para produção em massa. O produto final se parece com couro animal e tem durabilidade semelhante.
Vou usá-lo em breve?
Espera-se que produtos comerciais feitos com couro derivado de fungos estejam à venda em breve – então a questão é quanto isso vai custar. As estimativas de custo de fabricação indicam que o material pode se tornar economicamente competitivo em relação à versão tradicional, uma vez fabricado em maior escala.
O couro de cogumelo não é o único a enfrentar a indústria do couro animal, que também conta com outros adversários veganos, como os couros feitos de folhas de cacto, de fibras de abacaxi, cascas de maçã, cascas de uva e outros subprodutos da indústria do vinho. Por meio da biotecnologia, é cada vez maior a expectativa de que a indústria da moda em geral se baseie em materiais muito mais gentis com o planeta, com as pessoas, com as vacas e todas as formas de vida envolvidas na cadeia de produção do couro tradicional.
O futuro desse mercado alternativo é bem promissor e a tendência é que se expanda em ritmo acelerado nos próximos anos. De fato, não há nenhuma boa razão para as alternativas de couros veganos não conseguirem substituir a versão animal em muitos produtos de consumo. Ao contrário, até porque, chique mesmo é ser consciente.
Fontes: The Conversation | Livekindly | Discover Magazine | Veganbusiness