Antes de falarmos sobre este tema, é importante ressaltar que as expressões couro sintético, couro vegetal e couro ecológico, muito usadas no país, na verdade estão em desacordo com a legislação brasileira. No Brasil existe a lei 4.888/65, que determina que apenas produtos feitos em pele animal podem receber a denominação “couro”.
Por esses tecidos terem uma aparência e, às vezes, textura semelhantes ao couro, passaram a ligar a palavra a processos de produção mais sustentáveis. Porém, pela legislação, se o couro não é legítimo, ou seja, feito de pele animal, não pode receber essa denominação.
Masa, independentemente da denominação, alinhar sustentabilidade e moda se tornou um importante motor na indústria de tecelagem. Seguindo a tendência mundial, de redução de emissões, resíduos e impactos no meio ambiente, a designer espanhola Carmen Hijosa encontrou uma alternativa aos tradicionais tecidos disponíveis no mercado.
Conhecido como Piñatex, o tecido ecológico tem caráter inovador e reaproveita um subproduto da colheita do abacaxi para produzir as fibras de tecido. A ideia surgiu depois que a espanhola trabalhou como consultora na indústria de artigos de couro das Filipinas e reparou na resistência do material.
Para transformar o produto em uma matéria-prima, ela contou com o apoio da Royal College of Art, que fez uma parceria com a Camper, Puma e o designer Ally Capellino para lançar produtos utilizando o Piñatex.
De acordo com a designer, o tecido é semelhante ao couro e pode ser tingido, impresso e tratado para se ter diferentes tipos de textura. Dessa forma, é possível aplicá-lo na criação de sapatos, bolsas, estofados, entre outras peças.
Além de ser uma alternativa sustentável aos produtos de origem animal e de petróleo, o novo produto tem um cunho social, já que permite gerar uma renda extra aos produtores. Outro fator que chama a atenção é a acessibilidade e inclusão social, já que atualmente, couro virou artigo de luxo e muitas pessoas não têm acesso ao produto.
Como funciona?
O tecido reaproveita o caule e as folhas do abacaxi. As fibras são extraídas das folhas por um processo chamado descasque, feito sobre a plantação por uma comunidade agrícola. O que se retira disso é a biomassa, que pode ser convertida em fertilizante orgânico ou biogás. Em seguida, as fibras são submetidas a um processo industrial para tornar-se um tecido.
Para produzir um metro quadrado de tecido são necessárias 480 folhas, o equivalente ao subproduto de 16 abacaxis. O primeiro tecido foi lançado em dezembro de 2014, em Londres.