Pode abrir a próxima garrafa. O maior problema do vinho não é o vinho.
Entusiastas e produtores de vinho estão cada vez mais se conscientizando do impacto que sua bebida favorita tem sobre o meio ambiente, desde os pesticidas e fertilizantes usados para cultivar uvas, até os gases de efeito estufa liberados no transporte até ele chegar na sua taça.
O vinho é um produto agrícola, dependente de vários fatores em constante mudança que interferem em seu sabor, aparência e longevidade. Assim, a temperatura, o clima e o solo em que as uvas são cultivadas afetam cada garrafa. E, como qualquer produto que depende de fatores ambientais incontroláveis, ele também sofre com os impactos das mudanças climáticas causadas pelo homem.
O aumento das temperaturas, secas, incêndios florestais, desastres naturais e outras catástrofes relacionadas ao clima, antes raras e agora cada vez mais comuns, estão colocando em risco pequenas e grandes vinícolas. As regiões produtoras em todo o planeta podem encolher mais de 50% se as temperaturas subirem dois graus celsius. Até existe uma alternativa que seria os produtores de vinho trocarem suas variedades de uva por aquelas que são mais tolerantes à seca e ao calor, mas isso seria apenas uma solução temporária.
Quando todo um negócio se baseia na previsibilidade do tempo, qualquer mudança no clima, quente ou frio, tem um impacto enorme. Por isso, é cada vez maior o número de interessados no tema da sustentabilidade vinícola. Mas o assunto não é tão claro quanto aquela lágrima de vinho que você espera ver chorando na taça.
Uma questão bem subjetiva
A sustentabilidade não é absoluta, o que significa que o vinho e suas contrapartes agrícolas podem ser sustentáveis de algumas maneiras, e não tanto em outras.
Começando com as uvas na videira, a primeira fonte de dióxido de carbono e outros gases são os fertilizantes químicos que alguns produtores usam para nutrir suas plantas. Em uma escala global, os fertilizantes são um importante contribuinte para as emissões de efeito estufa, mas para a produção de vinho, eles não têm muito impacto. As uvas não requerem as quantidades de fertilizantes para crescer que outras safras, como o milho.
Da mesma forma, o dióxido de carbono liberado da fermentação das uvas representa uma porcentagem insignificante das emissões totais associadas à produção de vinho.
Acontece que 68% da pegada de carbono do vinho vem da embalagem e do transporte, principalmente na exportação de pesadas garrafas de vidro de 750 ml. Como o vinho é muito específico para cada região, o transporte terrestre e aéreo é responsável por quase todas as emissões de CO2 da indústria do vinho. Ou seja, ainda que a produção venha a ser totalmente consciente, o processo de engarrafamento, o transporte e o lixo gerado a partir de uma garrafa vazia descartada de forma inadequada podem prejudicar o planeta até mais do que a menos sustentável das vinícolas.
Vidro como vilão
O vidro é a melhor embalagem para a qualidade do vinho e para o consumo humano, pois não liberta produtos químicos nocivos. No entanto, tem a maior pegada de carbono de todas as embalagens devido ao peso e às super altas temperaturas necessárias para produzi-los e reciclá-los. Muitos produtores sustentáveis estão fazendo um esforço conjunto para reduzir sua pegada de carbono, mudando para garrafas de vidro mais leves, ou embalagens alternativas como latas e barris.
Bag-in-Box (BiB) – tendência de embalagens de vinho
Bag-in-box é uma das categorias de mais rápido crescimento para embalagens de vinho e é ótima para reduzir a pegada de carbono.
As bolsas internas de BIB são geralmente feitas de materiais como polietileno e uma fina camada de alumínio, ambos transformados em um filme metalizado. Elas são leves, moldadas em retângulos para maximizar o espaço de armazenamento e conservam o vinho em perfeitas condições porque ele está totalmente protegido, sem entrada de luz. A combinação do sistema de torneira com um saco de contração, torna impossível para o oxigênio entrar. O resultado é que o vinho em um BiB pode ser consumido de forma ideal, com todas as suas propriedades intactas (cor, aromas, sabores) semanas após a abertura.
Verdade seja dita, pode ser que os BiBs não sejam ideais para todos os vinhos nem para qualquer ocasião. Devido às suas características, não é possível ter um envelhecimento adequado nessas embalagens, que são mais adequadas para vinhos jovens e frescos, e ideais para piqueniques, festas e encontros de amigos.
A indústria do vinho está enraizada em tradições antigas e é compreensível que haja resistência a algumas técnicas e embalagens que quebram seus códigos clássicos. No entanto, já não podemos mais ignorar a necessidade da produção consciente, em todas as suas fases. Se a ideia é juntar o útil ao agradável, esta pode ser uma ótima opção. Afinal, o que não pode mesmo é ficar sem vinho.
Fontes: Decanter | Forbes | Ecowatch | Hammeken Cellars