No último dia 30 de novembro foi divulgada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) a estimativa da taxa de desmatamento na Amazônia no âmbito do Projeto de Monitoramento do Desmatamento da Amazônia Legal por Satélite (PRODES) indicando um aumento de 29% na devastação de árvores no período de agosto de 2015 a julho de 2016.
Em alguns estados o desmatamento é ainda maior, como no Amazonas (54%), Pará (41%) e Tocantins (40%), revelando um aumento dos espaços destinados à pecuária em função do crescimento da demanda global por carne, particularmente dos Estados Unidos e da China.
Por outro lado, esses números revelam também o total descontrole dos órgãos de fiscalização que não conseguem coibir o desmatamento ilegal, seja por ineficiência ou pela corrupção. A prática da corrupção envolve desde licenças ambientais obtidas de modo fraudulento, passando pela exploração ilegal da madeira, a ocupação ilegal de áreas de mangue e a destruição de matas ciliares para beneficiar o mercado imobiliário. A justificativa sempre presente entre muitos corruptos é que o meio ambiente não pode prejudicar o desenvolvimento, que a burocracia entrava o crescimento econômico e que a atividade econômica compensa sua predação ambiental com a geração de empregos e renda, entre outras.
A observação sistemática do desmatamento é feita regularmente na Amazônia e, embora esse trabalho seja meritório, é insuficiente para revelar o grau de destruição dos ecossistemas existentes nesse grande bioma. São muitas espécies animais e vegetais que estão desaparecendo sem serem conhecidas pela ciência. Essa biodiversidade, entre outros benefícios, poderia contribuir para a cura de muitas doenças que afligem a humanidade, por exemplo.
A realidade é que o desmatamento continua acelerado em todo o território nacional, fato facilmente constatado nas imediações das áreas urbanas e das rodovias por todo país, principalmente na Mata Atlântica. O cerrado é um dos biomas mais esquecidos nas estatísticas de desmatamento. Não é tão midiático internacionalmente quanto a Amazônia.
Formas de combate ao desmatamento
Para o combate ao desmatamento não basta aumentar a fiscalização e punir os culpados, embora isto já seja um grande avanço se ocorresse realmente. Há necessidade de uma política agressiva de recuperação das áreas degradadas, com planejamento envolvendo seleção de sementes e mudas, plantio, escolha de áreas, treinamento de pessoal e logística. Em resumo, uma gestão eficiente e eficaz do processo. Ainda estamos longe disso.
Há necessidade de envolvimento maior da população para o monitoramento da situação em todo país. Comunidades que dependem da floresta podem se tornar excelentes aliados, mas têm que ser valorizadas e ouvidas. Incrementar o nível de informação sobre o papel das florestas para os estudantes de todos os níveis já seria outro grande passo, pois muitos deles desconhecem que tudo que consumimos direta ou indiretamente têm origem no mundo natural, em particular nas áreas florestais. Desconhecem que muitos objetos de consumo usual não existiriam se não houvessem as florestas. Compreender esse vínculo é essencial para a realização de uma política de sucesso contra o desmatamento.
Os países desenvolvidos sempre cobram medidas para proteger as florestas. Contudo continuam consumindo produtos de origem florestal duvidosa. Com o aumento da população do planeta, e o consequente aumento do consumo, enfrentar o desmatamento não será tarefa fácil, mas necessária e vital. Exige que se avance o discurso para as ações concretas de grande envergadura.
As estatísticas de desmatamento do ponto de vista quantitativo são importantes, mas é necessária uma abordagem mais qualitativa para se saber o que está sendo desmatado, que ecossistema e qual a sua biodiversidade. Só assim compreenderemos a real gravidade da situação.