A sexta cidade da série Cidades Sustentáveis já fez de tudo um pouco dentro de uma administração municipal para reverter o impacto negativo da intervenção humana no meio ambiente. Estocolmo, cidade com mais de 880 mil habitantes espalhados pelos 6.519 km² de extensão territorial, investiu em planos de sustentabilidade que transformaram os rios da capital da Suécia que estavam poluídos em lugar adequado para pesca e implantaram lixeiras a vácuo que dispensam a coleta por caminhões. Além disso, ainda pretendem reduzir o uso de combustíveis fósseis nos próximos 37 anos.
O ano de 1972 foi importante para Estocolmo, pois foi sede da “Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano” da ONU. O evento destacou a cidade em âmbito mundial pelo exemplo da combinação da gestão administrativa com o planejamento urbano, que ligado a tecnologias avançadas de gestão ambiental, trouxe inúmeros benefícios à população.
Os projetos para impulsionar os índices de qualidade de vida da população sueca estavam há décadas atrelados à melhoria do tratamento de esgotos, gerenciamento de resíduos sólidos, eficiência energética e qualidade do ar.
Desde a década de 70 são realizadas novas intervenções na estrutura da cidade. O serviço de tratamento da água dos rios foi acionado e melhorou a sua qualidade, deixando-as apropriadas para a pesca e o lazer. Nem a água da chuva escapa das medidas sustentáveis. O planejamento de habitação da cidade investiu em sistemas que direcionam a demanda pluvial para unidades de tratamento específicas.
A prefeitura, através de parcerias com empresas de tecnologia da informação, reciclagem e eficiência energética, modificou o sistema de aquecimento da cidade, passando a utilizar energias renováveis, dentre elas a solar, responsável por 80% do aquecimento das empresas e residências.
Os reconhecimentos não pararam por aí. Em 2010, Estocolmo foi nomeada a primeira “Capital Verde” da Europa e no último mês de agosto, a Unidade de Inteligência Econômica (EIU, em inglês) – empresa de monitoria de investimentos mundiais – elencou Estocolmo na 14ª posição no ranking mundial que escolheu as 25 cidades que apresentaram os melhores índices nas áreas da saúde, meio ambiente, educação cultura e infraestrutura.
Um novo bairro sustentável
Porto Real é o nome do projeto de um novo bairro, que se prepara para receber mais 200 mil novos moradores e deve ser finalizado em 2025. Um das metas ambientais deste espaço é quanto a poluição atmosférica. Segundo a EIU, Estocolmo emite hoje 3,6 toneladas per capita de CO2 e o objetivo é chegar no ano de 2020 somente com 1,5 tonelada por pessoa.
Na área de 236 hectares de Porto Real também serão construídos 10 mil apartamentos residenciais. O porto, o qual faz parte do bairro, será mantido, mas somente para receber cruzeiros de turismo.
Além disso, o aquecimento do ambiente interno das residências terá exigências de alto padrão de eficiência energética. Nas construções antigas de Estocolmo é comum o aquecimento interno ser feito através da calefação, sistema que produz calor através da queima de combustíveis. No novo projeto, o aquecimento solar será usado para aquecer a rede hidráulica das casas e empreendimentos comerciais. Ao contrário da calefação tradicional, este procedimento produzirá a energia da cidade sem poluir o meio ambiente.
O bairro que nasceu da água
Em 1990, a prefeitura se empenhou em recuperar a área degradada pela construção da Avenida Hamarbyleden, nas margens do lago Hammarby Sjö, localizado no centro de Estocolmo, mas as adaptações e a construção do bairro sustentável de Hammarby Sjöstad começaram de verdade em 1993.
O projeto, que se baseou em novas tecnologias na área da construção civil sustentável, foi financiado pelo Programa de Investimento Local (LIP) e pela Symbiocity – órgão de desenvolvimento urbano ligado ao governo –, em 1998. O bairro, símbolo da sustentabilidade, teve a primeira parte concluída em 2011 e pretende abrigar aproximadamente 35 mil habitantes até término da obra, em 2016.
Neste bairro as calhas das residências são projetadas para que a água da chuva seja encaminhada diretamente para uma central de tratamento, se transformando em água potável para as famílias.
Confira no vídeo o programa “Cidades e Soluções”, que fala sobre o bairro de Hammarby Sjöstad:
Coleta de lixo a vácuo
Não existem lixeiras convencionais pela capital sueca. Para evitar que caminhões de lixo transitem pela cidade emitindo CO2 e gases poluentes para recolher o lixo em diversos pontos, a prefeitura, em parceria com a Envac, empresa sueca especialista na tecnologia de lixo pressurizado, colocou postos de coleta de resíduos sólidos e orgânicos pelas ruas, que são sugados a vácuo para uma estrutura subterrânea.
Os resíduos são transportados pelos canos até uma central de coleta a uma velocidade de 70 km/h. Somente quando os containers de 15 a 30 m³ enchem, um caminhão os leva para a usina de reciclagem.
O Hospital Soleftea, em Estocolmo, já utilizava o serviço em 1961 para gerir lixo hospitalar. Aqui em São Paulo, o Hospital Sírio Libanês aderiu ao método e o Parque da Cidade, empreendimento sustentável em construção na capital paulista, também pretende utilizar este serviço.
Rio para pesca urbana
A pesca urbana é uma prática comum em 17 cidades europeias – dentre elas Estocolmo –, pois o fluxo migratório de peixes passa por dentro das cidades. A capital sueca já estava acostumada com isso desde 1970, até a poluição de resíduos tóxicos industriais tomarem conta do lago Hammarby Sjö.
A solução da administração da cidade foi implantar o tratamento de água à base de cloro, plantas e algas capazes de absorver matérias orgânicas e dióxido de carbono presentes na água. Este processo de revitalização dos rios Riksbron and Vasabron fez com que os salmões e trutas marinhas novamente passassem pela metrópole.
Mudança no transporte da cidade
Estocolmo investiu no planejamento do sistema de mobilidade urbana em vários segmentos. O primeiro deles foi o metrô criado em 1950. Logo depois, em 1980, a prioridade no investimento no setor de transporte público foi para a produção das primeiras ciclovias. Os moradores ainda têm o bonde elétrico que liga os bairros distantes ao centro como alternativa de transporte de energia limpa. A vantagem da cidade é que as estações de metrô e bondes são interligadas para facilitar o deslocamento dos cidadãos.
Outra solução para o transporte, pensando na redução do impacto de poluentes na atmosfera foi o programa Veículos Limpos. Criado em 1996, a iniciativa da prefeitura foi realizada em cooperação com indústrias e varejistas de biocombustíveis, estabelecendo que todos os carros usem combustíveis a base de plantas e vegetais, ou emitam menos de 120 g de CO2 por quilometro rodado.
Para que isso fosse possível, a prefeitura negociou com fabricantes de automóveis e os incentivou a comercializar modelos e carros híbridos, no qual 50% da capacidade do motor venha da queima de combustíveis e a outra metade de energia elétrica. Parcerias com governo federal e ONGs geraram descontos fiscais sobre estes veículos e também para os biocombustíveis.
Já os ônibus na cidade operam movidos à biogás, feito do lixo orgânico que, segundo o prefeito de Estocolmo, Sten Nordin, é importado do Brasil.
Devido a essas inovações, os resultados foram positivos. A redução das emissões de gases de efeito estufa em 1990 chegou a mais de 25%. Em 2008, mais de 40% dos carros novos eram considerados limpos, pois emitiam poucos gases tóxicos, e a frota de carros movidos por combustíveis naturais chegou a 50 mil unidades.
Para Nordin todos estes investimentos na cidade são necessários, mesmo que no primeiro momento não seja aceito pelas empresas de sustentabilidade. “No começo é difícil, porque é preciso convencer as empresas de que, primeiro, isso é algo que gerará ganhos em longo prazo e, segundo, que o poder público está preparado para colaborar e não apenas para ditar normas”, comentou Nordin em entrevista ao portal O Globo, em junho do ano passado.
De acordo com Gunnar Söderholm, diretor da Administração de Meio Ambiente e Saúde da Prefeitura – também em entrevista para O Globo –, o envolvimento da população nas pesquisas de opinião é importante, pois reflete a consciência ambiental dos moradores de Estocolmo.
Sistema anti-engarrafamento
Assim como em Cingapura e na Califórnia, em Estocolmo, uma empresa de sistema informatizado instalou um sistema que coleta dados sobre o trânsito e os processa em forma de algoritmos para prever uma hora antes onde pode ocorrer os engarrafamentos.
Em todos os segmentos de serviços públicos Estocolmo conseguiu destaque com medidas sustentáveis. A administração sueca provou que é possível repensar em maneiras de se reciclar o lixo, purificar o ar e até fazer com que os peixes voltassem a nadar nos rios da cidade por métodos de limpeza e outros procedimentos adequados para amenizar impactos no meio ambiente.
O que achou das iniciativas verdes de Estocolmo? Na semana que vem, dia 30, se prepare para conhecer uma cidade europeia que é exemplo em mobilidade urbana sustentável, principalmente sobre duas rodas. Aguarde!