A cientista Suzana Kahn, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), desenvolveu uma pesquisa a pedido da fundação americana Bloomberg Philanthropies para avaliar métodos de redução de emissões de gases nas áreas urbanas do Brasil.
Kahn contou com a parceria da pesquisadora Isabel Brandão e o trabalho das duas mostra que três áreas principais precisam de investimentos para que as cidades tenham gestões mais sustentáveis. Essas áreas são esgoto e lixo (resíduos), transporte e energia.
O Brasil é extremamente urbano, com 84% da população vivendo em cidades. Esse número tende a aumentar ainda mais nos próximos anos, o que pode gerar grandes colapsos nas cidades que já sofrem com infraestrutura e planejamento em meio ambiente defeituosos.
O resultado da pesquisa demonstra que se ações efetivas não forem feitas com foco nas cidades, as emissões de carbono do país podem voltar a aumentar entre 2020 e 2030. A presidente Dilma Rousseff irá apresentar na Conferência do Clima em Paris, que começa agora em dezembro, metas de redução de 43% das emissões até 2030. Essas metas dificilmente serão atingidas sem o suporte às cidades e nelas não constam propostas direcionadas especificamente às regiões urbanas.
Áreas problemáticas
O Brasil ainda possui menos de 50% de sua rede de esgoto coletado e, deste tanto, apenas 40% é tratado. Ele se encontra em 112º do mundo entre 200 países no Índice de Desenvolvimento Sanitário, da Organização Mundial da Saúde. Trata-se de um dado alarmante, já que coleta e tratamento de esgoto é um item básico ao desenvolvimento de qualquer cidade e causa impacto não somente no meio ambiente como também na saúde humana.
O consumo de eletricidade por residências e edifícios comerciais em áreas urbanas responde por 50% do consumo no país e também deixa de cumprir padrões modernos de uso dos recursos. Caso novos padrões de eficiência energética fossem cumpridos, cerca de 25.000 GWh poderiam ser economizados por ano, isso equivale a quase um mês de consumo de todo o Brasil.
O transporte é o setor que mais pode contribuir com as reduções e o que mais infla os altos índices de poluição. Já existe na Política Nacional de Mobilidade Urbana a autorização para que municípios restrinjam a circulação de veículos. Essa medida, caso aplicada com ainda mais rigor, pode reduzir 19,5 milhões de toneladas de CO2 até 2020, marca que corresponderia a anular quase que por completo as emissões numa cidade do porte do Rio de Janeiro durante um ano.
A cultura do uso do carro pessoal deve ser modificada e o investimento em transporte público de qualidade é um fator que pode contribuir com essas mudanças de comportamento, assim como a imposição de regras mais rígidas como os pedágios urbanos, já muito comuns em cidades da Europa, por exemplo.