Recentemente em várias cidades do país ocorreram quedas de árvores devido às intensas chuvas associadas a ventanias. As mortes e os prejuízos decorrentes desses eventos intensificaram a discussão sobre o papel das árvores no ambiente urbano e suas limitações. Embora nos últimos anos tenha aumentando o entendimento sobre a importância da arborização urbana no planejamento das cidades, situações como essas redirecionam o debate para uma percepção de que os benefícios da arborização devem ser relativizados.
O problema é que a concepção que prevalece entre os gestores públicos compreende a cidade de maneira fragmentada e sem integração entre os elementos que compõem o espaço urbano. A cidade não é vista como uma unidade, um espaço integrado que satisfaz outras necessidades humanas como bem-estar e a qualidade de vida. Nessa concepção tradicional as árvores são também abordadas de forma isolada.
A perspectiva alternativa é entender a arborização urbana para além de um conjunto de árvores dentro da cidade, como parte fundamental da infraestrutura verde que converte as cidades em ecossistema natural e socialmente integrados. Esta segunda perspectiva utiliza uma abordagem holística que tem como base a concepção de floresta urbana e necessita de maior articulação entre o poder público e a sociedade civil, ampliando a participação na gestão das áreas verdes e promovendo a educação ambiental para integrar crianças, jovens e adultos na manutenção e monitoramento da cobertura vegetal urbana.
A floresta urbana tem origem antropogênica (derivada de ações humanas) e ao contrário de suas congêneres nativas, só existe e se mantém através da intervenção humana. Difere das florestas nativas por necessitar de monitoramento permanente. É formada pelas árvores das vias públicas e dos quintais, inclui as áreas verdes como parques, jardins, praças, parques lineares, fragmentos de mata nativa e outros espaços abertos com vegetação.
A floresta urbana gera uma série de benefícios e serviços ambientais similares aos das áreas florestais nativas, embora apresente condições e características diferentes. Ajuda a moderar a temperatura ao longo do dia, mantém os níveis de umidade do ar, fornece sombra que reduz a evaporação causada pela radiação solar, absorve o CO2 da atmosfera, repõe oxigênio e retém partículas sólidas e produtos químicos que formam a poluição do ar e causam doenças respiratórias.
Além disso, minimiza o perigo das inundações ao melhorar a porosidade do solo, reduzindo a compactação e facilitando a infiltração da água da chuva, melhoram a qualidade de vida e o bem-estar, tornando mais confortáveis os locais de residência, trabalho e lazer, além de melhorar a qualidade estética dos espaços públicos.
A floresta urbana pode criar ou restaurar a biodiversidade ao conectar a cidade com área verde existente no entorno. Na medida em que a cidade se expande, avança sobre ecossistemas pré-existentes forçando a adaptação de espécies da fauna e flora ao novo ambiente. As áreas verdes urbanas adequadamente distribuídas e interconectadas podem ser transformadas em corredores biológicos, facilitando a comunicação entre as plantas e animais, dispersando seu material genético e, assim, favorecendo a biodiversidade.
Os benefícios e serviços prestados pela floresta urbana são enormes e ainda não totalmente dimensionados, mas para que se obtenha resultados positivos e beneficie a população tem que haver um rigoroso processo de planejamento e gestão, pois enfrenta desafios como a contínua expansão urbana, as mudanças climáticas e as deficiências em sua manutenção decorrente da má gestão pública. Como resultado da melhoria de gestão, as florestas urbanas tornarão as cidades mais resilientes e melhor preparadas para enfrentar os desafios das mudanças climáticas.