Aproximadamente 80 mil toneladas de resíduos sólidos urbanos são descartadas incorretamente no Brasil, equivalente a 41,6% do lixo recolhido. Esse grave problema que só vem aumentando nos últimos anos, traz consequências como enchentes e muita poluição.
Para tentar reverter esse problema, a empresa Furnas Centrais Elétricas, em parceria com a Carbogás Energia Ltda., concluiu no mês passado a primeira fase de um projeto que tem como objetivo gerar energia elétrica a partir de resíduos sólidos sem incineração.
O projeto utilizará tecnologia 100% nacional, através da gaseificação a leito fluidizado, e busca uma alternativa menos poluente para o mercado nacional e internacional de produção de energia elétrica. Nélson Araújo dos Santos, gerente de pesquisa e desenvolvimento de Furnas, explicou o site G1 Sul de Minas que esse é um projeto que usa a tecnologia de gaseificação, que é bastante diferente da incineração.
“A taxa de poluentes é muito baixa, é uma tecnologia que a gente entende que consegue dar destino para todos os resíduos sólidos de uma maneira geral e através do gás produzido, gerar a energia elétrica. O lixo é um combustível para o nosso processo a partir de agora”. Nélson acrescentou que o processo já foi validado em uma primeira fase em uma planta reduzida de um parceiro e agora vai partir para uma escala maior, com volumes maiores, se aproximando de um modelo real, com toda a dinâmica de coleta e catação de resíduos.
Os testes aconteceram na planta experimental da Carbogás, em Mauá, região metropolitana de São Paulo, e possibilitou que os responsáveis comprovassem a viabilidade dessa nova tecnologia e que as taxas de emissões estão de acordo com padrões estabelecidos na Europa.
Entretanto, para que isso fosse possível, a iniciativa usou um processo termoquímico para a produção de gases combustíveis que será aplicado em caldeiras e turbinas a vapor, para que assim possa ser gerada energia elétrica sem a emissão de gases poluentes e prejudiciais ao meio ambiente.
Segunda etapa do projeto
O projeto de geração de energia a partir do lixo iniciou sua segunda etapa com a construção de uma usina térmica, em Boa Esperança (MG), localizada em volta do reservatório da Usina de Furnas. O local terá uma área de 7.800m² e capacidade de processar 47 toneladas de lixo por dia e gerar 1MW de energia (cerca de 8 mil megawatts hora por ano).
A criação dessa usina terá um investimento de R$ 32 milhões, que está incluído no programa de pesquisa e desenvolvimento da Furnas Centrais Elétricas, regulada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O objetivo é entregar o projeto ainda este ano e começar a operar em até 18 meses.
Ricardo Marques, gerente de Pesquisa, Serviços e Inovação Tecnológica de Furnas explicou que mesmo a usina tendo capacidade para abastecer uma cidade de 40 mil habitantes, nada impede que ela seja implantada em locais mais populosos. E ele ainda ressaltou: “Trata-se de um novo nicho de mercado que contribui para a solução do problema socioambiental de descarte de resíduos sólidos, que hoje as prefeituras possuem. Estimativas iniciais mostram que até 25% da energia elétrica para a faixa residencial pode ser atendida pela energia produzida com os resíduos sólidos urbanos”.