Recentemente uma notícia publicada por um jornal de grande circulação me fez pensar até que ponto nós, jornalistas, estamos preparados para informar e alertar sobre as questões ambientais, e como isso interfere na nossa responsabilidade em facilitar o acesso dos leitores à informação ambiental e à sua compreensão.
Na matéria, que prefiro não citar, por questões éticas, o destaque era um produto que estava sendo lançado e sua grande vantagem era a praticidade para as donas de casa, pois era descartável, ou seja, usou, joga fora, sem sequer a possibilidade de reciclagem. Cada kit ainda custava quase R$ 100,00. Obviamente, um produto para quem tem um bom poder aquisitivo. Aí a pergunta: será que o enfoque não deveria ser o contrário? Isto é, mostrar o desperdício desta atitude, em uma época em que se fala tanto sobre a conservação dos recursos naturais e os ambientalistas repetem exaustivamente a necessidade de redução no consumo?
É claro que há muitas situações envolvidas neste contexto. O repórter pode ser inexperiente, a matéria pode ter sido encomendada, enfim, não vamos culpar só o jornalista e o jornal. O problema talvez esteja no fato das questões ambientais ainda estarem longe de ser encaradas pela mídia como parte do nosso cotidiano. Falta mostrar que o aquecimento global e todos os outros problemas começam também com pequenas ações.
Muitos veículos possuem espaços dedicados às questões ambientais. Mas será que dá mesmo para separar? Política e economia não têm influência no meio ambiente? Creio que sim. Vamos analisar, por exemplo, uma política tributária, com altos impostos. Esta cobrança acaba fazendo com que a economia não cresça, assim obras de estrutura não são realizadas, como as de saneamento básico, contribuindo para o aumento de doenças na população, por causa da contaminação dos rios, que abastecem os reservatórios de água das cidades, onde os esgotos são jogados sem controle. A população adoecendo mais produz menos e aumentam os gastos do sistema público de saúde.
Enfim, todas as áreas têm ligação com o meio ambiente. Por isso, vale lembrar que na Política Nacional de Educação Ambiental (lei 9795/99) no art. 3º, inciso IV, está definido que como parte do processo educativo mais amplo, todos têm o direito à educação ambiental, incumbindo: “aos meios de comunicação de massa, colaborar de maneira ativa e permanente na disseminação de informações e práticas educativas sobre meio ambiente e incorporar a dimensão ambiental em sua programação”.
Eis, então, o desafio dos jornalistas: Como fazer esta incorporação de forma eficaz e não superficial? Para fazer isso, nos deparamos com alguns obstáculos para que esta eficácia aconteça. Primeiro: será que há mesmo interesse da grande mídia em disseminar essas informações? Segundo: qual a melhor maneira de os jornalistas se prepararem para estimular uma consciência mais crítica do leitor? Por último, e o que parece ser o mais difícil: como conciliar as questões ambientais com o consumo, já que os jornais sobrevivem dos anúncios de grandes empresas?
Não é tarefa fácil, mas acredito que é uma necessidade do jornalismo repensar sobre a sua participação na sociedade, em relação aos problemas ambientais, pois ao omitir informações, ou transmiti-las sem muitos questionamentos, também acarreta em graves conseqüências.