No Dia Mundial do Meio Ambiente não plante uma árvore. Hoje celebramos a data mais importante do movimento ambientalista e por isso, não plante uma árvore. Estude as origens deste movimento, converse com seus pares sobre a sociedade, sobre a mídia, sobre o desenvolvimento industrial da sociedade capitalista, debata o sistema, assista “A Corporação” – um documentário muito interessante que tem a proposta de ser amplamente divulgado pela internet, sem qualquer cobrança. Não tenha práticas sustentáveis e/ou ecológicas.
O primeiro livro que li que resgata o que é a questão ambiental, quem são os ambientalistas e como surgiram, foi do Prof. Carlos Frederico B. Loureiro chamado: O movimento ambientalista e o pensamento crítico¹. Nele, o ambientalismo é um projeto ao mesmo tempo realista e utópico de múltiplas orientações que se insere na política mundial com propostas que discutem o modelo civilizacional, a sociedade industrial capitalista, os comportamentos “ecologicamente corretos”, tendo como pilar a análise da atuação humana no ambiente e a discussão da relação sociedade-natureza, visando alcançar uma nova base civilizacional.
Ou seja, o buraco é mais embaixo. Não que eu seja contra o reflorestamento, pelo contrário! Mas acredito que não basta plantarmos uma árvore quando o Código Florestal foi transformado em cinzas, ou em gado, ou em soja, ou em cana. Minha gente, o que é plantar uma árvore quando se dá anistia a desmatadores ilegais até julho de 2008² (que tenham imóveis rurais de até quatro módulos fiscais)? É impossível ignorar os protestos mais que bem fundamentados da comunidade científica e das ONGs ambientalistas que em tempo fizeram um excelente trabalho, debatendo de maneira corajosa o maior retrocesso de toda a história da legislação ambiental brasileira.
E digo mais, para além das questões técnicas tão bem abordadas pelo Prof. Aziz Ab’Saber³ (Presente!) é necessário compreendermos o contexto político em que esta nova política foi formulada, a quem serve, por quem foi feita e de que forma foi feita.
Meu convite é que paremos todas e todos de aceitar essa grande falácia que nos propõe com ações individualistas, como se o ato de andar de bicicleta, coisa que eu adoro, fosse suficiente para termos a tão pregada sustentabilidade, que eu nunca vi, nem comi, só ouço falar.
Não que eu seja contra o reflorestamento, pelo contrário! Mas acredito que não basta plantarmos uma árvore quando o Código Florestal foi transformado em cinzas, ou em gado, ou em soja, ou em cana. Minha gente, o que é plantar uma árvore quando se dá anistia a desmatadores ilegais?!
Para corroborar com o convite feito, cito novamente o Prof. Loureiro quando afirma que “a solução para a chamada crise ambiental não se restringe à descoberta de tecnologias limpas, que diminuam os impactos sobre o meio natural, nem a mudanças comportamentais. É, antes de tudo, necessária a reorganização da base civilizacional e da estrutura política, econômica, social e cultural vigente, nas sociedades instituídas no período posterior à Revolução Industrial e no marco da modernidade capitalista.”
Loureiro vai além, dizendo que o que se observa é um distanciamento da humanidade da natureza, como se esta fosse algo que não fizéssemos parte e, a despolitização do debate ambiental, estabelecendo desta forma, a busca por soluções meramente tecnocráticas e gerenciais dos problemas, desvinculando-se da análise do padrão da sociedade.
Portanto, é necessário discutir o que se entende por “desenvolvimento sustentável” e “sustentabilidade”, conceitos ainda muito vagos e que apelam para atitudes individualistas que pouco ou nada contribuem para o ideário ambientalista, pois passam a sensação de que algo está sendo feito, tornando o “cada um faz a sua parte” suficiente, como se amenizar ou minimizar fosse suficiente, como se a degradação ambiental fosse inerente à existência humana. Mas não é? A defesa do meio ambiente é coletiva.
Então hoje não plante uma árvore. Repense o mundo que vivemos e em que mundo queremos viver.
Fontes:
1. LOUREIRO, C.F.B. O movimento ambientalista e o pensamento crítico: uma abordagem política. Rio de Janeiro: Quartet, 2ª Ed. 2006.
2. LEI Nº 12.651, DE 25 DE MAIO DE 2012. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651.htm
3. 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência. Aziz Ab Sáber sugere código da biodiversidade no lugar do florestal. Disponível em: http://www.sbpcnet.org.br/natal/imprensa/newsletterdia29_6.php
Denise Vazquez
Estudante de mestrado em Engenharia Civil na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), na área de saneamento e ambiente. É formada em Tecnologia e Saneamento Ambiental pela UNICAMP. Paulistana de nascimento, ela diz estar com o coração doído pelos problemas da metrópole mais malcheirosa do país. Depois de desejar ser professora e escritora, escolheu fazer biologia, graduação que nunca cursou. Desde então aceita o apelido de eco-chata.