A jornalista Elizabeth Kolbert, em seu livro “A Sexta Extinção”, defende a tese de que estamos vivendo uma nova extinção em massa da biodiversidade causada pelos seres humanos. A autora destaca que entre as atividades humanas que promovem a extinção das espécies estão desde as mudanças climáticas até a redistribuição intercontinental de animais. No entanto, de todas as formas de interferência dos seres humanos as mais evidentes são a caça e o tráfico ilegal de animais selvagens.
Segundo a WWF a caça e o tráfico ilegal movimentam cerca de 10 bilhões de dólares por ano colocando a atividade entre as principais, ilícitas e mais rentáveis do mundo, ao lado dos tráficos de armamentos, de drogas e seres humanos.
O que acontece com os rinocerontes e elefantes ilustra bem a situação. Estas duas espécies são submetidas anualmente a uma gigantesca matança. Essa prática ameaça a sobrevivência desses animais e algumas subespécies como o rinoceronte negro ocidental (Diceros bicornis longipes), considerado extinto desde 2011. Outras, como o rinoceronte branco do norte (Ceratotherium simum cottoni) estão em vias de extinção, havendo somente três exemplares fêmeas em cativeiro.
As matanças são frequentes. No Parque Nacional Zakouma, na República do Chade, ocorreu um massacre brutal. A população de elefantes passou de quatro mil, em 2006, para os atuais 450 exemplares devido à caça indiscriminada praticada principalmente pelos terroristas do Boko Haram, que comercializam o marfim para financiar suas atividades. No Mali, em 2015, foram mortos 57 elefantes de Gourma ou “elefantes do deserto” de uma população reduzida estimada em apenas 350 exemplares.
Estima-se que, em 1979, havia 1,5 milhão de elefantes africanos; hoje a população é de aproximadamente de 450.000, com uma média de 35.000 que são mortos a cada ano devido à caça ilegal. Este número supera a capacidade de recuperação da espécie, pois desde 2010 são caçados mais animais do que os nascimentos que poderiam repor as populações dizimadas. O mesmo ocorre com os rinocerontes africanos, que, de acordo com a ONU, morrem três a cada dia para retirada de seus chifres.
Os elefantes são caçados pelo marfim, que tem alto preço no mercado internacional, superando o ouro. O principal mercado consumidor é a China, seguido dos Estados Unidos. O rinoceronte, por sua vez, é caçado pelo seu chifre, ao qual se atribuem qualidades medicinais e de revigoramento sexual, além de serem utilizados em ornamentação. O valor de um quilo de chifre de rinoceronte alcança os 60.000 dólares. Considerando que um corno completo pesa em média 5 quilos, pode-se compreender o crescimento exponencial da caça, na África do Sul, que de sete rinocerontes mortos por caçadores no ano 2000 passou a mais de mil em 2014.
As nações africanas têm se mobilizado para conservar esses simbólicos animais, levando em consideração aspectos ambientais e econômicos. A venda de marfim, além de beneficiar bandos de criminosos e terroristas, priva os países africanos de arrecadar milhões de dólares anuais gerados pelo turismo ecológico, que tem como principal atração a megafauna.
Além da vida ter um valor inestimável em termos culturais, ambientais, de beleza natural, entre outros, ainda que se analise o valor desses animais em termos puramente econômicos, um elefante vivo vale mais do que 75 abatidos. Moçambique perdeu, em 2012, cerca de 21 milhões de dólares em receitas devido à redução drástica da população de elefantes.
Ações para salvar a vida animal
Duas iniciativas recentes devem ser saudadas. Na 2ª. Sessão da Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA), também conhecida como “Parlamento Ambiental da ONU” e realizada no final de maio deste ano, foi lançada a campanha #wildforlife, que busca combater o tráfico ilegal de animais com a mobilização de milhões de pessoas. A iniciativa conta com o apoio de várias personalidades, como a brasileira Gisele Bundchen e o jogador de futebol do Manchester City, Yaya Touré, que é natural da Costa do Marfim. A campanha visa integrar participantes que devem acessar a página da internet, escolher a espécie com a qual se identifica e utilizar a sua esfera de influência para ajudar a colocar um fim ao comércio ilegal de espécies.
A outra iniciativa vem dos Estados Unidos, onde governo anunciou, em junho passado, a proibição do comércio de marfim no seu território, com algumas exceções que incluem instrumentos musicais, móveis e armas que contenham menos de 200 gramas de marfim, assim como peças que tenham pelo menos um século de antiguidade. Essa medida é importante, pois os norte-americanos estão entre os grandes consumidores de marfim e a proibição limita a importação, a exportação e as vendas desse material, fechando um canal importante de comercialização utilizado pelos traficantes. A expectativa é de que a medida reduza substancialmente o tráfico de marfim nesse país.
A caça ilegal de rinocerontes e elefantes é um problema global que somente será resolvido com a diminuição do consumo de marfim e chifres. São os consumidores que recompensam os caçadores ilegais. Evitar o consumo de marfim e chifres de rinocerontes é uma atitude que pode fazer a diferença na sobrevivência desses animais.