O fato é que, no fim das contas, o que conta mesmo são os nossos hábitos.
Que o nosso sistema alimentar afeta o abastecimento de água subterrânea, gera um terço das emissões de gases de efeito estufa e consome muita terra, isso a gente já sabe.
Que os cientistas aconselham que reduzamos o consumo de carne, o desperdício de alimentos e compremos mais alimentos produzidos localmente, também sabemos. Até aí, nada de novo. Mas será que o planeta também se beneficiaria se comêssemos menos alimentos processados?
A resposta é: depende. Os alimentos podem ser divididos em não processados ou minimamente processados, processados e ultraprocessados.
Os não processados de origem local, como frutas e vegetais inteiros, têm uma pegada de carbono relativamente baixa e os alimentos vegetarianos minimamente processados têm um dos menores impactos ambientais.
Só que a sustentabilidade de um alimento depende de quanta energia é gasta no processo como um todo, ou seja, no processamento, armazenamento, preservação, refrigeração e, claro, do quanto dele desperdiçamos.
É o tipo de ingrediente, seja ele processado ou não, que gera seu impacto ambiental. Por incrível que pareça, os alimentos ultraprocessados têm um baixo impacto ambiental se não contiverem nenhuma ou pouca quantidade de ingredientes de origem animal. Isso inclui as gorduras e outros conservantes usados para ajudar a armazenar os alimentos por mais tempo.
Alimentos processados em geral parecem bastante sustentáveis, mas isso é mais indicativo de seus ingredientes do que do próprio processamento. Tanto que já há estudos que apontam que qualquer alimento ultraprocessado contendo óleo de palma e soja tem efeitos ambientais negativos consideráveis.
E não é só o alimento em si que o define como vilão ou mocinho quando o assunto é impacto ambiental. Nessa conta, a gente precisa considerar também as embalagens onde eles são acondicionados. Se um determinado alimento tiver uma pegada pequena de carbono, mas sua embalagem for de isopor, por exemplo, pronto, o impacto para o ambiente vai ser maior.
Por que depende?
Se você desperdiçar carne, isso terá um impacto ambiental bastante grande porque produzi-la é muito intensivo em termos ambientais. Se você desperdiçar vegetais, ainda há um impacto, mas é bem menor, porque a quantidade de energia gasta para produzi-los é muito menor. Em tese, os alimentos ultraprocessados podem até ajudar a combater o desperdício se não precisarem de refrigeração – isto porque esse processo usa muita energia, contribuindo para as emissões.
Só que os efeitos do consumo de alimentos processados e ultraprocessados estão diretamente relacionados à sobrecarga econômica, assistencial e, claro, ambiental, dos sistemas de saúde para cuidar de uma população saudável versus uma com taxas mais altas de doenças relacionadas à obesidade.
E agora, o que fazer?
Pensou que o cálculo acabava com o prato vazio, né?
É por isso que a maneira mais sustentável de consumir alimentos é fazer apenas o que comemos.
Na maioria dos países desenvolvidos, mais da metade de todo o desperdício de alimentos ocorre em casa. Para evitar comprar mais comida do que o necessário, faça viagens frequentes ao supermercado a cada poucos dias, em vez de fazer compras em massa uma vez por semana. Outra ideia é tentar consumir toda a comida que comprou na última ida ao mercado antes de comprar mais mantimentos. É difícil no começo, mas as conveniências da tecnologia podem ajudar a criar esse hábito.
Motivos para um consumo mais consciente? Temos um monte.
Mais de 1/3 de todos os alimentos produzidos globalmente vão para o lixo. O valor anual dos alimentos desperdiçados no mundo é de U$ 1 trilhão e pesa 1,3 bilhão de toneladas. Se o desperdício de alimentos fosse um país, ele seria o terceiro maior emissor de gases de efeito estufa (depois da China e dos EUA).
Embora esses números possam parecer impressionantes, cada um de nós pode fazer algo para garantir que esses números sejam muito mais baixos já a partir de agora – seja por meio de compras mais bem planejadas, armazenamento mais inteligente de alimentos ou uma porção de produtos excedentes da loja da esquina. Você pode ajudar a reduzir essa prática mudando alguns hábitos. Toda pequena ajuda, conta.
Fontes: BBC | Food Navigator | Olio