Por incrível que pareça o maior inimigo do clima não são as emissões, e sim, a forma como forças políticas importantes lidam com elas. Não estamos falando apenas de governos e sim das múltiplas forças que decidem os rumos da economia no mundo.
Segundo Paul Krugman, Nobel da economia em 2008 em artigo recente (08/06) publicado no jornal americano The New York Times, os verdadeiros inimigos do clima vão muito além de interesses econômicos e influências privadas. Tem sua raiz na formação cultural de gerações que surgiram dentro do liberalismo econômico, acreditando que o autointeresse é bom e produz crescimento, e que intervenções (da ciência, governo ou ambientalistas) são sempre problemas que paralisam este crescimento. Essa geração que viu crescer seus negócios em décadas passadas, a partir da pressão dos ambientalistas, da ciência e dos governos, se vê pressionada para mudar suas ações, o que é considerado um desafio direto à suas visões de mundo libertário.
O ambientalismo não é inimigo do crescimento econômico e de certa forma ajudou nas inovações de processos que além dos resultados ambientais, proporcionaram resultados econômicos e oportunidades de novos negócios também. Empresas inteligentes que trataram a questão como uma nova fronteira de inovação, foram impulsionadas (e não pressionadas) para transformar e continuaram a ganhar dinheiro como sempre ganharam ou até mais. A interferência tem sido positiva para setores mais abertos a inovações e, com isto, consumidores ganharam produtos melhores e mais eficientes no quesito ambiental e empreendedores e acionistas, ganharam novos mercados e maior lucratividade. Foi uma espécie de ganha-ganha.
Mas porque tanta resistência de alguns setores ou países? Segundo Krugman, é uma mistura de ideologia e anti-intelectualismo, somado a uma visão temerosa de perda de empregos e prejuízos econômicos que podem advir das restrições às emissões, o que os fatos desmentem. Setores que se renovaram para operar com menos emissões não apresentaram tais sintomas durante o processe de adaptação e hoje operam normalmente.
Proteger o meio ambiente exige investimentos evidentes, mas nada tão alarmante como se costuma pensar. E quando a questão é tratada com imparcialidade e disposição, novas soluções aparecem e, normalmente, melhores do que as anteriores. Isto é inovação e melhoria contínua que conferem perenidade a organização.
A teoria de Darwin que aponta a adaptação como uma das formas mais eficientes da sobrevivência das espécies pode ser usada também para entendermos a relação “empresa X mercado”. As organizações que se tornam perenes são aquelas que melhor se adaptam às condições do mercado. O mercado é um elemento dinâmico e não estático, com migrações, tendências , conformidades e relacionamentos. E claro, a variável ambiental faz parte desta dinâmica de forma institucional e física.
Quando nos deparamos com países como os Estados Unidos, que durante muito tempo foram o maior emissor do mundo e, recentemente, foram superados pela China neste quesito, não entendemos porque a demora em tomar atitudes firmes em relação as emissões, mesmo depois de confirmada e reconfirmada pela comunidade científica a interferência das atividades humanas no clima.
Mas se acrescentarmos uma visão sociológica da situação, fica mais perceptível o entendimento de tanta resistência ao óbvio. Lendo o artigo de Krugman, mais claro ainda, principalmente quando ele afirma que o maior obstáculo na luta contra o aquecimento global é a ideologia econômica reforçada pela hostilidade à ciência. Ou seja, a espécie humana neste caso, está sendo ao mesmo tempo ré e vítima da sua própria ignorância e orgulho.
Vamos torcer para que este obstáculo “cultural” e “comportamental” seja superado, porque soluções existem e devem ser colocadas em prática o mais rápido possível.