Descartar comida boa. O ato impacta não só a economia e o acesso de milhões de pessoas a uma alimentação saudável, mas também o meio ambiente.
No Brasil, o descarte de resíduo orgânico é alarmante: são quase 37 milhões de toneladas por ano, basicamente, restos de alimento — a quantidade é quase 50% de todo o lixo recolhido no país. A situação coloca o país entre as dez nações que mais desperdiçam alimento no mundo.
Um estudo da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), em parceria com a FGV (Fundação Getulio Vargas), revelou que cada família desperdiça, em média, 128 quilos de alimentos por ano. Por pessoa, o desperdício de comida em casa atinge 41 quilos anuais. Desse volume, os produtos mais descartados anualmente são arroz (28,33 quilos), carne (25,76 quilos), feijão (20,60 quilos), frango (19,32 quilos) e leite (5,15 litros). Outros itens apontados foram massas, peixes e grãos.
Na pesquisa, feita com 1.764 pessoas de todas as regiões do país, diversas faixas etárias e de diferentes classes sociais, constatou-se que 70% dos entrevistados valorizam ter a dispensa de casa cheia. Verificou-se também que a maior parte acredita que sabor (94%) e frescor (77%) são os principais pontos a considerar. Sendo assim, 43% dos participantes declararam que descartam as sobras das panelas.
Desperdício financeiro
O mesmo estudo constatou que o desperdício de alimentos de uma família brasileira composta por três pessoas em um ano pode ultrapassar R$ 1.002,00. O valor é superior ao salário mínimo, que é de R$ 998. Se for levado em conta o custo do preparo, que inclui gás de cozinha, óleo, água e outros recursos, a quantia será ainda mais impactante.
Impacto ambiental
Estimativas mundiais do projeto Perda e Desperdício de Comida da FAO, a agência da ONU (Organização das Nações Unidas) para alimentação, dão conta de que 1,3 bilhão de toneladas de alimentos por ano não são consumidos. Uma vez em aterros sanitários, os resíduos alimentares promovem mudanças climáticas, pois lá apodrecem e acabam por liberar metano, um gás de efeito estufa que é cerca de 25 vezes mais nocivo ao meio ambiente do que o CO² (dióxido de carbono).
A carne é, de longe, o maior vilão do clima entre os alimentos. O gado e outros ruminantes geram grandes quantidades de metano. No caso das vacas, são várias centenas de litros de gases por dia. Como resultado, cerca de 13 quilos de CO² são liberados por cada quilo de carne bovina, segundo a organização ambientalista Greenpeace.
Estima-se que a emissão de carbono dos alimentos desperdiçados equivale a 3,3 bilhões de toneladas de dióxido de carbono por ano.
A comida jogada no lixo soma um desperdício de cerca de 170 trilhões de litros de água por ano, já que o recurso é amplamente usado durante a produção de praticamente tudo o que é consumido. O número representa em torno de 24% de toda a água utilizada na agricultura.
A Terra possui 1,4 milhão de quilômetros cúbicos de água, mas apenas 3% são de água doce. Destes, apenas 0,26% pode ser aproveitado. Diante disso, as estatísticas prevêem que em 2025, 1,8 bilhão de pessoas viverá em países ou regiões com escassez absoluta de água.
Reverter esse cenário de desperdício e combater problemas presentes e de um futuro nada distante, está em ações bem simples.
Reaproveite
Aquela comida que sobrou de uma refeição e ficou na geladeira pode ser consumida como está ou transformada em outra receita (na internet, você pode encontrar várias ideias).
Utilize integralmente os alimentos: cascas, talos e folhas. A folha de beterraba, por exemplo, que é rica em vitamina A, pode ser refogada e o talo em um molho vinagrete, além de dar uma cor bem bonita ao prato.
Ricas em fibras, aproveite alguns alimentos sem descascá-los, como cenoura, batata, mandioquinha (batata- baroa) e chuchu. Assados ou cozidos, ficarão gostosos e ainda mais nutritivos.
Receita rápida
Outra saborosa sugestão é usar a casca da banana para fazer um dos doces mais tradicionais do Brasil: o brigadeiro. Você vai precisar da cascas de 3 bananas, cortadas em tirinhas, 300 ml de água, 1 xícara de chá de açúcar, 2 colheres de sopa de manteiga, 4 colheres de sopa de farinha de trigo, 1 xícara de chá de leite, 1 xícara de chá de leite de leite em pó, 2 colheres de sopa de chocolate em pó e chocolate granulado.
Em uma panela, coloque as cascas de banana com a água e o açúcar. Cozinhe até ficar pastoso. Acrescente a manteiga, a farinha de trigo dissolvida no leite; o leite em pó e o chocolate em pó. Cozinhe até desprender do fundo da panela, coloque em um prato e deixe esfriar. Então, está pronto para fazer as bolinhas, passar no chocolate granulado e saboreá-los!
Planeje-se e organize-se
Substitua as compras mensais por semanais, assim, você compra itens mais frescos. Planeje o cardápio semanalmente e faça uma lista dos ingredientes necessários para o preparo dos pratos. Dessa forma, você vai adquirir só o que realmente precisa e evita que alimentos estraguem na dispensa. Antes de ir ao supermercado, verifique quais produtos já tem em casa.
Ao comprar alimentos perecíveis, pegue em pequenas quantidades e mais vezes na semana, se possível, para não correr o risco de estragarem e ter de jogar fora.
Quando for guardar os alimentos, coloque na frente aqueles com datas de vencimento mais próximas, para utilizá-los antes que o prazo expire.
Dê mais vitalidade à sua horta
Faça a compostagem de seus resíduos orgânicos. Eles se transformarão em adubo natural, substituindo o uso de produtos químicos.
Outras dicas
Dê preferência a frutas, verduras e legumes da época. Quando produzidos em sua estação, a irrigação geralmente não é necessária, o que ajuda a economizar água. Já quando cultivados fora da época, precisam não só de mais água, mas também de mais recursos para o seu crescimento – maior uso de insumos como pesticidas e fertilizantes.
Por fim, uma dica que é muita falada, mas que vale lembrar: evite fazer compras com fome, para não pegar mais alimentos que o necessário.