Os últimos anos foram difíceis para o ser humano. De repente toda a negligência, o descaso e a crueldade que se cometeu contra a natureza finalmente teve uma resposta. Passamos por uma crise muito séria. Para diversas pessoas faltam os recursos mais básicos para a sobrevivência. Água potável, própria para o consumo, não está mais ao alcance de todos. Pelo contrário, ela é oferecida a poucos e por um alto preço. A falta de chuva, em algumas regiões, nos obriga ao racionamento. A criação de alternativas para o reúso da água consumida é bem necessária. Precisamos, portanto, nos conscientizar sobre as nossas atitudes. Desperdiçar água não só afeta o nosso bolso como também a vida na Terra.
O primeiro lugar onde podemos exercitar os bons modos é em nossa casa. Desde criança aprendemos coisas bem simples, como fechar a torneira enquanto escovamos os dentes ou o chuveiro enquanto ensaboamos o cabelo. Estas são coisas que qualquer pessoa pode fazer. Mas os profissionais especializados podem ir além, planejando uma atualização das nossas casas visando um futuro mais ecológico e sustentável.
Competições de projetos são realizadas todos os anos. Elas servem tanto para educar como encontrar soluções para problemas simples. Todas as propostas apresentadas, mesmo aquelas ainda impossíveis de serem executadas no momento, servem de inspiração para o aprimoramento dos produtos disponíveis no mercado. Qualquer boa ideia pode nos ajudar a reduzir nosso consumo diário de água ou de qualquer outro recurso já escasso em nosso planeta.
O banheiro é a zona em nossa casa onde existe o maior número de pontos de desperdício de água potável. Litros e litros escorrem pelos encanamentos, levando embora sujeira e partículas mortas, descartadas de nossos corpos. Parte desta água poderia ser reutilizada antes mesmo de seguir para o seu destino, para o sistema de esgoto sanitário. Numa busca rápida pela internet vemos que já existem boas alternativas para isto.
Existem bacias sanitárias, por exemplo, com válvulas que dosam diferentes pressões (com duplo acionamento) para o descarte dos resíduos. Algumas peças possuem divisão interna para separar o material sólido do líquido, destinando cada qual para tratamentos diferentes. O próprio descarte dos resíduos pode ser feito com água reutilizada da pia e do chuveiro. Na maior parte das vezes esta água contém apenas resíduos de sabonete e shampoo, assim chamada de ‘água cinza’, pois não possui tanta contaminação. Para o funcionamento da bacia sanitária também se pode utilizar água das chuvas, captada e filtrada em um coletor instalado no jardim ou no terraço. Seria um desperdício descartá-la diretamente na rede de esgoto, já que ela está limpa. Ela não é própria para beber, mas pode ser usada na limpeza da casa e na rega do jardim.
A pia do banheiro pode ter um design próprio, apropriado para coletar sua água e destiná-la para outros aparelhos no banheiro. Esta coleta pode ser feita também na parede, no percurso feito pelo encanamento, ou em uma adaptação no sifão, regulando a saída da água com a ajuda de um registro. A torneira pode ter um temporizador e um fechamento automático para evitar desperdícios. Existem modelos ecológicos que regulam a saída da água, quantidade e pressão, para que gastemos menos. Em algumas regiões do Brasil, as concessionárias já estão até distribuindo ‘kits economizadores de água’, próprios para restringir a pressão da saída de água em qualquer modelo de torneira.
No box do banheiro a coleta da água pode ser feita no piso, sob nossos pés. Um estrado elevado de plástico ou em madeira, sobre um compartimento de armazenamento, cria um sistema simples de coleta da água residual do chuveiro. Se a bacia sanitária do seu banheiro tem caixa acoplada ela pode ser abastecida com a água dos banhos. Isto evita o gasto de água provinda da caixa d’água, que é tratada. Se dentro deste compartimento, no piso do box, nós adicionarmos um sistema de filtragem, a água pode ser redirecionada para o próprio chuveiro. Isto reduz também o gasto de energia elétrica, já que a água não perde o calor durante este processo.
O descarte de fluidos e resíduos sólidos com a utilização da água tratada em bacias sanitárias parece algo muito ignorante e contrário à vida de uma sociedade que se denomina como contemporânea. Alguns propõem que passemos a utilizar, num futuro próximo, um sistema a seco, onde a água da urina ajuda a conduzir os dejetos até um tanque acumulador, onde estes receberiam o devido tratamento. O odor, inevitável, seria bloqueado por produtos criados à base de óleos extraídos dos vegetais. Isto poderia reduzir o consumo de água para descarga à quase zero.
Na teoria, estas propostas são fáceis de serem aplicadas no design e na arquitetura. O maior desafio está em conscientizar as pessoas da importância de cuidarmos da água e valorizarmos este precioso recurso. Parece difícil nos desapegarmos de velhos hábitos. Apesar da preocupação com o meio ambiente crescer a cada dia, a discussão sobre o saneamento ecológico é rara. A humanidade parece desatenta. Mas as consequências da falta de água já são perceptíveis em grandes centros urbanos e, em breve, não poderemos mais tardar o momento em que não haverá alternativas a não ser a mudança total de postura e de comportamento.