iStockphoto.com / ipopba A tecnologia e os meios sustentáveis precisam andar juntos.

As inovações tecnológicas costumam ser apontadas como o motor do crescimento econômico das nações, sendo peça fundamental para diferenciar os seus níveis, pois quanto maior o índice de inovação de um país, maior tende a ser a sua economia. Esse fenômeno se deve ao fato de ela impulsionar a capacidade de iniciativa dos empresários e fomentar novas descobertas científicas, gerando oportunidades de investimentos e impactando positivamente o crescimento e o emprego das nações, de modo que os lucros obtidos geram novos investimentos e expandem as inovações (SHUMPETER, 1982).

Segundo o Manual de Oslo (1991) as inovações tecnológicas correspondem à introdução de novos produtos ou melhoria daqueles já existentes no mercado, englobando todas as etapas produtivas dos processos técnicos, tais como as cientificas, organizacionais, financeiras e comerciais, as quais contribuem decisivamente para o desenvolvimento desses novos produtos ou processos tecnologicamente melhorados.

Sobretudo, apesar dos inúmeros benefícios produtivos oriundos das inovações tecnológicas, elas tradicionalmente contribuíram de maneira negativa para a conservação ambiental, intensificando a sua degradação e reduzindo drasticamente a biocapacidade do planeta, tanto por meio da geração de resíduos e emissão de poluentes, resultantes da dinâmica entre os agentes econômicos, quanto através do esgotamento dos recursos naturais não-renováveis.

Um pouco de história

Esse fenômeno foi impulsionado pelas Revoluções Industriais, em fins do século XVIII e início do século XX, período em que prevalecia a abundância de recursos, por isso não se preocupava com a exaustão e finitude dos mesmos. De acordo com Lustosa (2011) somente depois de mais de um século e meio do início do processo de industrialização e crescimento econômico, a questão da escassez dos recursos passou a ser considerada como ameaça ao crescimento das economias modernas, sendo introduzida definitivamente nas agendas de desenvolvimento das nações.

Nesta perspectiva, Altvater (1995) alerta sobre os riscos globais iminentes, enfatizando que o desenvolvimento econômico e o meio ambiente deverão caminhar juntos, dadas as crescentes demandas de recursos produtivos para as atividades econômicas e a finitude dos recursos ambientais que se tornam cada vez mais escassos, comprometendo toda a dinâmica econômica e o futuro do planeta.

Nesta perspectiva, as inovações tecnológicas têm perdido o seu perfil altamente degradador nos últimos anos, passando a ser incorporadas pelas nações como mecanismo fundamental de conversão de uma economia extremamente poluidora para uma economia verde e sustentável, utilizando os recursos naturais de maneira eficaz e com a devida responsabilidade ambiental, dadas as novas demandas de mercado e as exigências do Estado.

Tais iniciativas na qual a tecnologia é utilizada de forma limpa e responsável, ocorrem em maior proporção nas nações desenvolvidas, mesmo sendo estas as mais poluidoras, visto que nas nações pobres a incorporação de tecnologias limpas ainda é bastante cara. Além disso, a utilização de normas ambientais é vista por muitos países como grande empecilho ao crescimento econômico.

Brasil e a relação tecnologia e sustentabilidade

No caso do Brasil observa-se um grande paradoxo: de um lado este apresenta-se como detentor de uma das maiores biodiversidades do planeta, tendo evidentes vantagens comparativas frente às outras economias e capital natural abundante. Mas, por outro lado, o seu rápido crescimento econômico, principalmente ao longo do século XX, intensificou a degradação ambiental e o empobrecimento dos serviços ecológicos, provocando uma crescente perda da sua biocapacidade.

Sem contar que o processo de crescimento do país foi marcado por precários investimentos em tecnologia, as quais eram constantemente importadas dos países desenvolvidos, demandadas pelo modelo de substituição de importação, não havendo grande esforço tecnológico interno para produção de tecnologia própria (SANTOS, 1998).

Somente na última década do século XX verificou-se uma maior expansão do desenvolvimento científico do país, com mudanças profundas nos padrões de competitividade, nas relações comerciais e no processo produtivo (CUNHA, 1992). Tais iniciativas buscaram também fomentar o desenvolvimento de tecnologias limpas, direcionando investimentos em massa para programas e projetos ambientais. Entretanto, os dados do The Global Innovation Index 2013 (GII) revelam que o Brasil ocupa atualmente a 61ª posição no ranking do índice global de inovação, perdendo apenas para Índia, em relação aos BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Esses dados revelam a necessidade de o país canalizar mais investimentos em ciência e tecnologia, dada a sua grande desvantagem tecnológica em relação às economias mundiais e vantagem em termos do capital natural global. Somente com a expansão dos investimentos tecnológicos pode-se pensar em um novo modelo de desenvolvimento, cuja questão ambiental passe a ser vista como prioritária.

Sem investimentos em inovações, o país continuará trilhando um caminho degradador, reduzindo maciçamente o seu capital natural, perpetuando a sua dependência como importador de tecnologias externas fortemente nocivas ao meio ambiente, gerando inúmeros impactos negativos que também se estendem à economia e, consequentemente, à população como um todo.

O Brasil necessita quebrar tabus, com esforços de toda a sociedade, governantes, empresas, instituições, entre outros agentes, incluindo a questão ambiental não como empecilho para o crescimento, mas como mecanismo essencial para a promoção do desenvolvimento sustentável. Aproveitando as oportunidades nas dificuldades, o Brasil poderá trilhar um novo caminho rumo à sustentabilidade global.

Referências

ALTVATER, E. O Preço da Riqueza. Pilhagem Ambiental e a Nova (Des)Ordem Mundial. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1995. p.43-131.
CUNHA, S. Padrões de intervenção do Estado em ciência e tecnologia. Revista de Economia. N. 16. Curitiba: UFPR, 1992.
LUSTOSA, M. Inovação e tecnologia para uma economia verde: Questões fundamentais. Economia Verde. Desafios e oportunidades. N. 8. Junho de 2011.
OSLO MANUAL, 1995. Disponível em: http://www.oecd.org>. Acesso em: Janeiro 2015.
SANTOS, S. M. Determinantes de investimentos em capacitação tecnológica nas empresas brasileiras. Tese de Doutorado em Economia. Recife: PIMES/Universidade Federal de Pernambuco, 1998
SCHUMPETER, J.A. Teoria do Desenvolvimento Econômico. Editora Fundo de Cultura, Rio de Janeiro, 1982.
The Global Innovation Index 2013 (GII). Disponível em: https://www.globalinnovationindex.org/content.aspx?page=GII-Home.

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Doutorado - Andamento (Economia Agrícola e Meio Ambiente/ UnB). Atuou como Líder da Realidade Climática, desenvolvendo soluções climáticas (Climate Reality Leadership Corps/2014). Colabora como colunista e como revisora de periódicos. Possui Mestrado em Desenvolvimento Regional (UFAM/2008-2010) e graduação em Ciências Econômicas (UFAM /2003-2007). Foi pesquisadora na área de economia e gestão do Instituto de Inteligência sócio-ambiental estratégica da Amazônia, desenvolvendo atividades relacionadas à participação em projetos e a elaboração de relatórios de pesquisa (2009-2010). Prestou serviços para a Universidade Federal do Amazonas, atuando como professora substituta do Departamento de Economia e Análise (2009-2011) e atuou como professora assistente da Universidade do Estado do Amazonas no Curso de Economia do Centro de Estudos Superiores de Itacoatiara, ministrando aulas, organizando eventos acadêmicos, realizando orientações e pesquisas socioeconômicas e ambientais sobre a Amazônia. Reside, atualmente, em São Paulo -SP.