Localizada na América do Sul, Bogotá é a nossa terceira Cidade Sustentável, que conseguiu favorecer o meio ambiente e a sociedade, ao mesmo tempo, através de políticas públicas e projetos sustentáveis. Com uma população de pouco mais de 7 milhões de habitantes, houve investimento no bem-estar deles com várias iniciativas, como a criação de ciclovias; vias exclusivas de ônibus; medidas para a redução da violência e até para por fim no tráfico de animais.
Bogotá também trabalhou para a melhoria da qualidade do ar com a criação de áreas verdes que, além de servir de entretenimento para a população, é responsável por filtrar o gás carbônico excedente da atmosfera.
Todas estas ações colocaram a capital colombiana entre as 10 cidades mais sustentáveis no mundo, segundo o Mother Nature Network. Entretanto, para receber tal mérito, o governo municipal contou com o apoio de muitos engenheiros e arquitetos que se basearam em tecnologias de mobilidade urbana para reestruturar as plataformas de transporte para os usuários.
Transmilênio: por um transporte público rápido e eficiente
O precursor das mudanças de Bogotá foi Enrique Peñalosa, prefeito da metrópole entre 1998 e 2001. No primeiro ano de seu mandato, ele executou o projeto do Transmilênio, um sistema de transporte rápido e acessível de ônibus BRT (ônibus de trânsito rápido, em inglês) que passa por corredores exclusivos – mesma premissa do transporte de Curitiba .
Atualmente o Transmilênio conta com uma frota de 7 mil ônibus que percorrem os 84,4 km de rodovias, passando por 114 estações da capital e região metropolitana do seu entorno, durante 18 horas por dia.
Este sistema tem três vantagens primordiais: consegue transitar pelo tráfico intenso dos carros; é mais barato do que se tivesse metrô na cidade e ainda reduz o impacto de CO2 na atmosfera, já que um número maior de pessoas é transportada por um único veículo, diminuindo a quantidade de automóveis pelas ruas da capital e a emissão de gases tóxicos. Para o cientista político, Daniel Mendonza, em entrevista para o jornal The New York Times, utilizar o sistema é muito mais prático e econômico, “com o Transmilênio eu posso evitar o uso do meu veículo, gastando gasolina, e chegar mais rápido ao meu destino”.
Apesar das vantagens deste tipo de transporte público, os resultados da transformação só foram vistos alguns anos depois. No começo de 2006, por causa da restrição de carros particulares no centro da cidade no horário de pico, os ônibus fizeram 1.050.000 viagens por dia, chegando a executar o trajeto três vezes mais rápido que um ônibus típico de Nova York, por exemplo, o que equivale a 28 km/hora.
Até o ano de 2010, o tempo de viagem foi reduzido em 32% e a emissão de poluentes em 40%. As áreas no entorno das vias de trânsito rápido se tornaram mais seguras, diminuindo as taxas de acidentes em 90%. De acordo com a prefeitura de Bogotá, o objetivo é ampliar o projeto do TransMilenio, atingindo 388 km de extensão, que atenderá 5,5 milhões de passageiros/dia.
A prefeitura pretende colocar 200 ônibus híbridos nos corredores do Transmilênio até 2014, visando diminuir ainda mais a emissão de CO2 na cidade. Os veículos, que consomem até 35% menos combustível, serão fabricados na cidade de Curitiba pela Volvo.
A população que se locomove sobre duas rodas
Com mais de 360 km de extensão, as ciclovias da cidade começaram a ser implementadas em 1998 – ainda no governo de Enrique Peñalosa –, se estendendo pelos subúrbios até o centro da capital. A CicloRuta (ciclovias) de Bogotá, comporta cerca de 200 mil usuários, de acordo com dados de 2010 da Secretaria de Mobilidade Urbana de Bogotá.
Em 2006, o prefeito Samuel Moreno Rojas declarou que pretende expandir a ciclovia e chegar aos 500 km até o final de 2013.
Aos domingos, algumas vias públicas da cidade são interditadas e o fluxo de carros dá lugar às bicicletas no programa “Domingo sem carro”, outra grande iniciativa da prefeitura para promover a integração social, a utilização das bicicletas e melhorar a qualidade do ar de Bogotá.
Além das ciclovias, existem 1.200 metros de áreas verdes divididas entre praças e áreas de lazer que antes eram cortiços e/ou pontos de tráfico.
Diminuição da criminalidade
A capital da Colômbia já foi alvo de muita violência no passado, mas uma parceria entre a prefeitura, bancos privados e ativistas de programas culturais também conseguiu mudar este cenário, priorizando a qualidade de vida dos cidadãos. O problema da criminalidade foi resolvido na raiz, com o fortalecimento da educação através do “Livros que voam”, programa de distribuição de livros em pontos de ônibus de Bogotá, realizado por Luiz Angel Blandon, ex-membro da FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
“A cidade investiu, além do aprimoramento da repressão, em urbanismo combinado com educação”, afirma o sociólogo Jairo Arboleda, do Banco Mundial da Colômbia, em entrevista para o jornalista Gilberto Dimeinstein, em 2006.
Ao longo dos anos, os órgãos públicos entenderam que estimular medidas socioeducativas poderiam abrandar os rastros da violência do narcotráfico entre a população e o resultado das ações estão nos números. Entre os anos de 1995 e 2003, a diminuição da taxa de homicídios representou 70%, de acordo com o Comitê Técnico de Bogotá “Cómo Vamos”, organização sem fins lucrativos formada por pesquisadores, empresários e o poder público que estuda os dados sobre a qualidade de vida da população. Em 2012, pela primeira vez em 30 anos, o índice continuou com quedas significativas, apontou a pesquisa do comitê. O estudo também informou que a população ficou mais exigente quanto aos direitos e conseguiram criar uma cultura de cidadania através de reivindicações.
Outra medida para a redução do número de mortes foi a lei seca criada em 2006 pela prefeitura de Bogotá. A lei determina que bares e casas noturnas fechem a 1 da manhã para evitar crimes ligados ao alcoolismo.
A medida de reforço de policiamento do corpo policial e do desarmamento organizado pelo governo de Álvaro Urib, em 2006, também contribui para a segurança da população.
Redução do tráfico de animais
O crime ambiental se tornou um comércio em toda a Colômbia. Mais de 59 mil espécies raras são contrabandeadas e vendidas no país, segundo o Insight Crime – órgão de combate ao crime organizado na América Latina e Caribe. Papagaios, tucanos e araras, o mico-leão-dourado, saguis, jaguatiricas e até mesmo filhotes de jacaré são apreendidos ilegalmente todos os anos.
Cada bicho preguiça, por exemplo, chega a custar cerca de R$ 100 no mercado paralelo. O comércio ilegal de animais silvestres movimenta entre US$ 7,8 bilhões e US$ 10 bilhões por ano em todo o mundo de acordo com um relatório de 2011 da ONG Global Financial Integrity, associação de especialistas tributários que estudam o fluxo de atividades ilícitas.
Em Bogotá existem 12 mil espécies de animais que são vendidos ilegalmente em locais públicos. Só em “Plaza del Restrepo”, no centro da capital, de acordo com Andrea Padilla, ativista da Animal Naturalis são comercializados mais de 9 mil espécies e algumas delas vindas do Brasil, que podem custar até R$ 360 reais.
O combate a estes crimes envolve a atuação de autoridades ambientais, ONGs, a Polícia Nacional e a Interpol. A polícia, em parceria com a ONG Sociedade Mundial para a Proteção Animal (WSPA), realiza a campanha “Un Silvestre NO es Mascota” em terminais rodoviários, portos, estradas e lojas de animais de estimação. Nestes locais são distribuídas cartilhas com informações sobre animais em extinção e como as pessoas podem informar os órgãos que monitoram a questão a encontrar as ilegalidades.
Desafios de Bogotá
Por mais que Bogotá seja considerada uma cidade sustentável, um fator complica a questão da mobilidade na cidade, a superlotação do Transmilênio. A frota ainda não consegue acomodar todos os usuários. Segundo declaração da Maria Victoria Duque, assessora de gabinete do prefeito, em entrevista à repórter Karin Hueck (VEJA), “o Transmilênio é vítima de seu próprio sucesso”.
A raiz do motivo da superlotação está no refúgio de migrantes das áreas rurais – onde se concentra o narcotráfico – para o centro próspero industrial de Bogotá. Cerca de 5,2 milhões de colombianos são refugiados, ou seja, 10% da população. O fenômeno ocorre porque “se existe uma população morando em alguma área de interesse econômico no interior – como uma rota de tráfico –, a história é sempre a mesma. Grupos paramilitares entram no vilarejo, matam todos os homens, e as mulheres acabam nas grandes cidades”, diz Mercedes Castillo de Herrera, professora de economia e urbanismo da Universidade Nacional da Colômbia à VEJA.
A capital colombiana combinou bem os subsídios com a gestão sustentável do transporte, preservação dos animais e diminuição da violência. A estrutura para a sustentabilidade encontra-se estabelecida em políticas públicas eficientes, que também contam com o auxílio da consciência da população sobre a preservação do meio ambiente.
As melhorias proporcionadas à população de Bogotá são realmente impressionantes, o que você achou? Se gostou do que leu aguarde, pois na próxima semana, 9 de outubro, você vai conhecer mais uma smart city que começou a ser construída em 2005 na Ásia e faz uso de tecnologia avançada para administrar toda a cidade.