São inúmeras as características atribuídas à bicicleta: revolucionária, libertadora, sustentável. Porém, apenas uma engloba seu significado de forma mais ampla: transformadora. A bicicleta tem o poder de transformar tanto a vida de uma só pessoa, como de uma cidade inteira.
Quem se rende aos encantos de pedal dificilmente consegue se desvencilhar dele, e acaba ganhando um aliado da saúde. E não se trata apenas da saúde física. A bicicleta ajuda a combater problemas como obesidade, reduz riscos de doenças cardíacas, melhora o condicionamento físico e ainda ajuda a deixar o corpo em forma. Para a mente, o resultado é menos estresse, mais sensação de liberdade. Em cima de uma bicicleta, o contato com a cidade e com as pessoas que nos rodeiam é imensuravelmente maior do que em qualquer outro meio de transporte. Apesar de ser um veículo individual, a bicicleta é a que mais beneficia o coletivo.
O papel transformador da bicicleta sobre uma cidade passa por diferentes fatores, um deles é a economia. Segundo a escritora do livro Bikenomics: How bicycling can save the economy (Bicieconomia: Como a bicicleta pode salvar a economia), Elly Blue, a bicicleta é uma poderosa ferramenta para frear gastos públicos e individuais. “Investimentos para melhorar a circulação de carros são altos e o retorno é muito baixo. Esse gasto só aumenta cada vez mais. Em compensação, o investimento em infraestrutura para bicicletas é baixo e oferece um retorno alto. Mais bicicletas é melhor para todos, até para quem não pedala”, afirma ela.
A melhor forma de incentivo ao uso da bicicleta é o investimento em infraestrutura adequada e segura. O arquiteto dinamarquês Lars Gemzoe, reconhecido internacionalmente por seus trabalhos em qualidade de vida nos espaços públicos, também acredita que a bicicleta é uma ferramenta de transformação. Copenhague, capital da Dinamarca, é considerada a cidade onde há mais pessoas utilizando bicicletas como meio de transporte no mundo e é modelo em infraestrutura para este tipo de deslocamento.
Investimento em infraestrutura cicloviária, combinada com melhoria no espaço para pedestres, impacta também no comércio local. Lars Gemzoe defende que um dos principais motivos desse beneficiamento é o fato de que, facilmente, um ciclista vira pedestre e pode empurrar a sua bicicleta pela calçada. Um levantamento feito pelo Departamento de Transportes de Nova York, apontou aumento de mais de 50% nas vendas do varejo nas 8ª e 9ª avenidas após implantação de ciclovias segregadas, por exemplo.
Além de promover um exercício físico diário e ajudar a combater problemas como obesidade, a bicicleta pode ajudar a reduzir os níveis de poluição na cidade e, consequentemente, reduzir a ocorrência de doenças causadas por ela. Segundo dados da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), 90% da poluição do ar em São Paulo vem dos carros. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os elevados níveis de poluição na cidade de São Paulo são responsáveis pela redução da expectativa de vida em cerca de 1,5 ano.
O stress causado pelo trânsito e o tempo perdido nos deslocamentos também impactam negativamente na produtividade dos trabalhadores. A Secretaria Estadual dos Transportes Metropolitanos, do Governo do Estado de SP, estima que as perdas de produtividade em decorrência da poluição e dos engarrafamentos cheguem a R$ 4,1 bilhões, somente na cidade de São Paulo.
Mas para a bicicleta transformar uma cidade, a cidade também precisa se transformar para recebê-la, tratando-a como tal, um veículo de baixo custo, de propulsão humana, que oferece mais liberdade e mais saúde, mas que é frágil diante dos demais. Entendido isto, os benefícios vem em cascata.